Com o tempo, pouco a pouco, e a partir de um profundo senso de necessidade, vim perceber que o evangelho é também para crentes. Quando por fim percebi isso, todas as manhãs eu orava fazendo referência a uma passagem como a de Isaías 53.6: “Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós”. E depois eu dizia: “Senhor, eu me desviei.

Eu me voltei para o meu próprio caminho, mas tu depositaste todo o meu pecado sobre Cristo e por causa disso eu me achego a ti e me sinto aceito por ti”. Vim perceber que a declaração de Paulo em Gálatas 2.20 (“A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”) foi feita no contexto da justificação (cf. v. 15-21). No entanto, Paulo estava falando no tempo presente: “A vida que agora vivo…”.

Por causa do contexto, percebi que Paulo não estava falando de sua santificação, mas de sua justificação. Para Paulo, então, justificação (ser declarado justo por Deus com base na justiça de Cristo) não era apenas uma experiência passada, mas também uma realidade presente. Paulo vivia dia a dia pela fé no sangue vertido e na justiça de Cristo. A cada dia ele olhava somente para Cristo para ser aceito pelo Pai. Ele cria, como Pedro (v. 1Pe 2.4,5), que mesmo nossas melhores ações —nossos sacrifícios espirituais— são aceitáveis a Deus somente por meio de Jesus Cristo.

Talvez ninguém além do próprio Jesus foi um discípulo tão comprometido na vida e no ministério quanto o apóstolo Paulo. Mesmo assim, ele não olhou para seu próprio desempenho, mas para o “desempenho” de Cristo como o fundamento exclusivo de sua aceitação por parte de Deus. Aprendi assim que os cristãos precisam ouvir o evangelho por toda a vida porque é o evangelho que continua a nos lembrar que nossa aceitação diária junto ao Pai não se baseia no que fazemos por Deus, mas no que Cristo fez por nós em sua vida sem pecado e em sua morte que carregou o pecado.

Comecei a perceber que nos apresentamos diante de Deus hoje tão justos quanto jamais seremos, mesmo no céu, porque ele nos revestiu com a justiça de seu Filho. Assim, não tenho de desempenhar para ser aceito por Deus. Agora sou livre para obedecer a ele e servi-lo porque já sou aceito em Cristo (v. Rm 8.1). A motivação que tenho e me propulsiona agora não é a culpa, mas a gratidão.

Mas, mesmo quando entendemos que nossa aceitação por parte de Deus se baseia na obra de Cristo, ainda naturalmente tendemos a nos desviar para uma mentalidade de desempenho. Por conseguinte, precisamos continuamente retornar ao evangelho. Para usar uma expressão do falecido Jack Miller, devemos “pregar o evangelho para nós mesmos diariamente”.

Por: Jerry Bridges IP Jundiai

CategoryArtigos, Pastoral
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